quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Crônica: Quando a nuvem vira uma tempestade
Jurou amá-la eternamente, agachado, com as mãos entrelaçadas.Mandou a ela, as flores mais raras, os chocolates mais caros, as cartas mais apaixonadas.Deu-lhe um cão.Comprou um colar, cordas novas para seu violino e o último modelo de secador de cabelos, lançado pelo canal de compras da TV a cabo.Leu Hemingway e Wilde, escutou Chet Baker e Dire straits, assistiu a cassavetes e robert altman, para terem do que falar.Aprendeu a fazer o mouse de limão que ela tanto gostava, comprou uma bicicleta para acompanhá-la em manhas de domingo ensolaradas, largou o futebol da sexta-feira com os amigos, para fazer companhia a ela nas palestras sobre arte contemporânea.Parou de beber tanto, tirou a barba toda, para ela não parar de o amar.Sonhava com suas maos, deseja toda a noite, um minuto a mais de seu olhar.Não escreveu seus nomes em troncos de arvores, fez melhor, trocou o tchau, pelo eu te amo.Na primeira semana perdou a visão de um olho, na segunda de outro, no final do mês, estava cego.O extrato baixo no banco, as insutilezas dela com outras pessoas, os cotovelos na mesa, nao importavam nem um pouco.Ele tinha um bom emprego, ela achava que ele tinha um bom emprego, e em tantas outras coisas, achavam o mesmo.Ela apoiava Fidel e Chavez, ele comprou um camisa vermelha, colocou a biografia de Nixon no lixo ,saiu do partido republicano, e juntos,foram a passeata contra a privatização das empresas estatais.Ele era gremista, ela odiava futebol, comiam frutos do mar aos sábados, trocaram ESPN por GNT, ele eh alérgico a camarão.Ele tinha medo de altura, mas mesmo assim ela e James Stuart foram escalar.Resolveram viajar, ele queria Seattle, ela Florença.decidiram ao invés de nirvana, Pavarotti.Alugaram um apartamento, compraram juntos um fogão, um sofá e um karaokê, mesmo ele odiando cantar.Mas ate ai, já tinha perdido a voz.Depois disso, ficou mudo, não falava, só escutava o que ela delicadamente gritava sem parar.-“A tampa do vazo ta aberta’’-‘’O lixeiro já passou’’!-‘’a lavanderia já vai fechar’’.2 meses depois, estava surdo.Ele estava cansado.Ela não se cuidava tanto, havia acne por todo lugar.Seu peito de frango ao molho madeira não era tão bom assim, sua voz não era mais tão suave, sua risada não era mais tão confortante, seu beijo, mais do que sem graça.Hemingway era um louco suicida.Chet Baker,passou a ser apenas mais um viciado de merda.Arte contemporânea, era apenas um cuspe que qualquer um daria.O cabelo dela perdeu o brilho, seus dentes se amarelaram, alem disso ela tinha caspa e seus pais eram uns chatos.Fazia mais horas extras, começou a beber como antes, e comprou um radinho a pilha para escutar o jogo.Um dia, tudo parecia diferente.Ele saiu do emprego decidido e sorridente.Pegou o carro, subiru as escadas com pressa, não deu nem oi para os vizinhos que lhe saudaram no corredor.Ele abriu a porta.No radio, estava tocando um sambinha, ela estava na cozinha, ele a chamou.Ela veio devagar, estava suja de farinha, perguntou porque a pressa, o que era que ele tinha.Agora sua voz voltou, foi quando ele a olhou. segurou suas mãos e levantou a cabeça.Agora a vida estava mais bela, as cores mais vibrantes e seu corpo estava em harmonia.Sentiu o peso da decisão nas costas, um prazer momentâneo na sua espinha, um ar de renovação, e a certeza de ter jogad o dardo na resposta correta.Respirou fundo,relaxou o corpo, depois de um tempo.Comeu, escovou os dentes, e foi dormir.Com ela.O fato é, que ela tinha 35 e ele 37, e daqui a um mês, irão se casar.
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